segunda-feira, 5 de junho de 2017

O dia que eu só não gostaria de esquecer pra sempre porque, no fim das contas, é uma história pra contar

Tema Livre
Por Laura Reis



Me lembro como se fosse hoje da sensação de impotência em carregar um pequeno estojo de lápis enquanto ao meu redor se abria um portão para o infinito mundo dos materiais artísticos.

Foi assim: em algum momento do período vestibulando eu decidi que seria uma boa artista plástica. Uma das razões para chegar a essa conclusão, com certeza, era o fato de que, em todas as provas de exatas ou naquelas que exigiam a lembrança de fatos cronológicos, eu me saia muito mal. A questão visual parecia mais simples de ser alcançada e foi lá que me matriculei.

Chegou o dia de fazer a prova específica de artes visuais e o meu conhecimento nesse campo era tão grande quando uma tela de colagens e uma noção do que parece bonito aos meus olhos.

Entrei na sala com a minha bolsa e alguns materiais como lápis de cor, tesoura e cola e me sentei na cadeira. Respirei fundo pensando que logo logo aquilo ali – que tinha tudo para ser divertido – estaria no fim e eu poderia beber uma cerveja com meus amigos. Risos.

A cadeira que escolhi, assim como no colégio, era bem na parede esquerda então eu tinha uma visão privilegiada de todos os jovens em construção ali presentes e, assim que passei o olho pela primeira vez, senti aquele deplorável misto de vergonha e desespero. Tenho certeza que naquele momento, meu rosto (em sua melhor performance artístico-plástica) passou do branco para o vermelho explosivo em poucos segundos.

Montanhas de materiais e estojos gigantes que não paravam de brotar bolsos internos com canetas intergalácticas, compassos impressionantes, réguas estratosféricas e outros milhões de materiais que nunca avistei em minha humilde trajetória artística de criança que pinta esse tipo de imagem acima ilustrada.

Se você pensa que não poderia ficar pior, sente-se e fique bem à vontade para ser contrariado.

Uma das tarefas era transformar um cilindro de isopor em algum objeto - com o auxílio dos materiais levados para a prova. Ressalto que, nesta época, eu também estava numa vibe meio hippie e, obviamente, decidi que fazer um porta-velas ou porta-incenso era o mais sensato naquele momento. O isopor ia se desintegrando na minha mão até que sobrou apenas o formato de um pequeno lápis com ponta falhada que terminei aos prantos enquanto visualizava de canto de olho sanduíches completos com alface e tomate, mesas de praça com seus quatro bancos acompanhantes e algumas outras obras de arte que minha memória, com certeza, se esforçou para apagar. Obrigada, amiga.

Pois bem. Obviamente eu terminei fazendo Publicidade e Propaganda, como é sabido pela população, e agora que terminei esse relato, tenho quase certeza que já fiz ele em algum lugar da web. Peço desculpas... é que  sempre fico abalada com esse conto.

Hoje concluo que o meu vício adulto em papelaria, canetas, lápis e todas essas firulas tem um triste fundamento que a minha memória, obviamente, não vai me deixar esquecer.

Um comentário:

  1. Lembro demais de ler isso e adorar e não entendi por que não comentei, deve ser culpa do Rafa e da Marina. Perdão!

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