segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Do que não muda

Tema: Banco
Por Laura Reis

Acabara de pousar em sua nova cidade. Ficaria ali tempo suficiente para aprender novos costumes, aperfeiçoar o sotaque há muito perdido, conhecer gente nova, conhecer ainda mais gente nova, sentir uma saudade danada do que deixaria para trás e se cansar mais uma vez de todo aquele “novo de novo” que tanto buscou.

Depois de mal falar o homem que andava calmo demais para um centro de cidade tão movimentado e observar a moça bonita sorrir enquanto olhava o celular, sentou-se no primeiro banco que avistara, assim que pisou na praça. Do outro lado, um menino olhando para os próprios sapatos, aparentemente muito concentrado em alguma questão ingenuamente filosófica para sua pouca idade.

Lembrou-se que anos atrás, lá em sua cidade, havia sido interrompido por uma senhora de idade, num momento tal qual aquele menino se encontrava. A velhinha lhe dizia para correr atrás dos pombos e esperar que eles voltassem para então correr atrás mais uma vez e se divertir com isso mesmo, em vez de ficar ali estagnado. Hoje se sentia como aquela senhora: urgente em fazer o pobre menino cair em si e entender de uma vez por todas que pensar demais pode nos fazer viver de menos.

Com meio segundo de pensamento, optou na verdade por não interferir naquele momento que, mesmo ainda não parecendo, com certeza deveria fazer parte de algum importante processo de formação de ideia da pequena mente do menino pensante. Mas antes de se dar conta, fora interrompido por um jovem senhor que cutucou a criança enquanto esbravejava um “Vá brincar, moleque!”.


Certas coisas nunca mudam de endereço, pensou. Que venham novos velhos ensinamentos, então.

Um comentário:

  1. "e entender de uma vez por todas que pensar demais pode nos fazer viver de menos."

    GENTE

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