quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Choco, late!

Tema: Chocolate
Por Vanderley José Pereira


Em um canil. Data de hoje:

– Choco, late! 
– Tudo bem, já que não quer latir, vamos dar um passeio, amiguinho.

   Aquele seria o primeiro momento que Choco sentiria o sol diretamente em sua pele. Seria o primeiro contato de choco com o mundo exterior...


Tempos atrás:

   De uma ninhada saíram três cachorros, dois com pelagens caramelo e um chocolate. A mãe, que era caramelo, por complicação na gravidez acabou por falecer. Os três “titiuzinhos”, que já nasceram fragilizados, estavam definhando. Com fome, frio e sem cuidados não demorariam a morrer. 

   Largados a própria sorte no canil, a esperança exauria. Por sorte, sempre aparecia uma criança de bom coração disposta a adotar um filhote. Os preferidos (pelos pais) sempre eram os menores e com certo aspecto de cão de raça. Eles iriam comer Pedigree, brincar de buscar o disco e dormir ao pé da cama dos donos. Iriam ser da família. Teriam uma assinatura: Bolinha da Silva, Alfinete Andrade, Nicolau Santos e Silva. Sorte para poucos: sorte dos malteses, sorte dos chiuauas, sorte dos poodles, sorte dos yorkshires. Daquela ninhada só restava um, o de pelagem chocolate. Ele não tinha os pelos do maltês e nem do poodle; não tinha o tamanho do chiuaua; e nem a graça do yorkshire. Ele não tinha sorte.

   Às vezes, um ou outro cão grande “achava um osso enterrado” (digo com sorte) e encontrava uma família. Esses teriam um lar também, assim como seus irmãos pequeninos. Para tanto teriam de demonstrar força, rapidez e imponência.  Seleção digna de um soldado.  E assim seria, um soldado. Protegeriam o dono, a casa. Em troca de comida e passeio aos fins de semana. Mas para eles já estava mais do que bom, pois era tirar a sorte grande. Afinal, teriam espaço para andar, brincar e latir. Não iriam dividir o espaço que mal lhe cabia com uma lata com comida, outra com água, fezes e urina. Ter um lar é ter vida! Sorte de poucos: sorte dos pastores belgas, sorte dos dobermanns, sorte dos rottweillers. O cachorrinho com pelagem chocolate mais uma vez não tinha as características desejadas. 

   Para uns, era grande demais, para outros, não tinha tamanho. Para uns, sua aparência era medonha; para outros, era fraca. O tempo foi passando e o cachorrinho com pelos tom de chocolate foi ficando. Aos poucos foi buscando sua identidade, se é que um cachorro vira-lata (ou fura-saco) em um canil tem direito a isso, mas estava aparentemente feliz com suas conquistas: uma vacina anual contra raiva e um nome, Choco. Nome que nada tinha relação com sua cor, e sim com o aroma que exalava de sua gaiola.

   Até arriscava tentar brincar sozinho com sua sombra. Quando a via ele pulava e latia, todavia sempre era repreendido com um esguicho d’água no focinho e com um barulho infernal do tinir do cassetete do seu “amigo” em sua jaula. Falo amigo, pois era assim que Choco o via, afinal ele era a única pessoa que levava comida a ele, além de, é claro, ter lhe dado um nome. Somado a todos esses transtornos vividos, quando brincava Choco sempre se machucava, por ser um cachorro grande para aquele cubículo, sempre feria suas costas expondo sua carne.  Aos poucos Choco foi ficando quieto, calado, sem apetite. Choco estava definhando! Seu “amigo”, ou algoz, sabia o que fazer; e não tardaria.

– Choco, late! Vai, choco, late.

– Cachorro imprestável. Não seve para nada, só fica acuado, com medo; assustado com a própria sombra? Nem latir, “isso” late! Você é igual chiclete mascado ou um relógio sem ponteiro. Seu inútil.

– Choco, late! 
– Tudo bem, já que não quer latir, vamos dar um passeio, amiguinho.

   Aquele seria o primeiro momento que Choco sentiria o sol diretamente em sua pele. Seria o primeiro contato de choco com o mundo exterior. Choco estava, apesar de fragilizado, feliz com o sopro de liberdade. Mal sabia ele que aquela felicidade duraria apenas alguns passos. A liberdade chegaria, não ali, mas em outro plano.

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Beijos e boa semana.

Limão!

12 comentários:

  1. ele não merecia ter esse nome.


    rs brinks

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  2. Também não queria esse fim. Mas quando fui escrever o texto ficou vivo e saiu assim. a principio iria fazer a historia do patinho feio adaptada para um cão labrador cor chocolate. mas saiu esse texto.

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  3. Eu realmente esperava um final feliz pro bichinho!
    Nem sempre é assim na vida real tb, né.

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  4. Mas ri muito do título: choco, late hahahahahaha

    ri tudo de novo, agora.

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  5. Eu queria fugir do obvio sobre chocolate. Acho que consegui. Mas esse texto não saiu o que esperava, mas ele tomou vida e deu nisso...

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  6. Muita vida .. rsrsrs ..

    .. ri do título também .. achei ótimo

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