quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Deslocada

Tema: livre
Por: Rosana Tibúrcio

Sempre andou na contramão. Não ao dirigir, claro; é deslocada, não louca ou burra.

Mas aquela história de que as todas as jovens tinham que usar meias três-quartos não se tornou um hábito ou motivo para gastar seu minguado e suado dinheirinho. Optava pelas pernas descobertas porque eram bonitas, “e pernas bonitas de moças bonitas foram feitas para serem apreciadas”, dizia o avô, que tinha bom gosto como os moços todos que olhavam para as dela em vez de para as das meias da modinha. E em tempos de botas de cano baixo, médio ou longo, usava seus saltos altos e finos que continuavam a atrair olhares deles e delas. Delas de entojo; deles de cobiça.

Para não ficar só nessa de pernas e aparente vazio - assim como as meias três-quartos, botas e saltos - enquanto as amigas estudavam inglês ou espanhol, quis mais e demorou quase um ano para encontrar um professor de russo. Aprendeu. Fala fluentemente. E as amigas perguntavam: “Para quê? Onde vai falar essa língua louca e com quem?” Com ele, o armênio mais lindo do mundo que conheceram em Nova York. Foi só ele contar de onde vinha que ela se pôs a praticar tudo que aprendera nas aulas complicadas. O lindo só teve olhos e boca para ela. As amigas se mordendo. Ela sorrindo.

De volta ao Brasil, com o armênio a tiracolo foi a vez dela ensinar ao moço lindo, sua língua; apresentar as comidas e hábitos locais; e, principalmente, as canções e cantores brasileiros de maior destaque. Começou com os clássicos da música popular brasileira não só por uma questão denominada cultural, mas porque eram seus preferidos. Enquanto as amigas ouviam pagode e similares ela ia de Vinícius, Tom, João, Elis, Caetano, Chico, Gil e companhia. Ela parou na turma dos "clássicos" pensando ter sedimentando o gosto dele.

E assim, as lições musicais corriam soltas pela casa do casal - que aboliu tempo de namoro, noivado e partiram logo para "vamos morar juntos?" - até o dia que ele voltou para casa com mais de dez discos: de pagode, músicas denominadas bregas e outras canções dissonantes das que ela havia lhe apresentado, porque "os meninos do trabalha ouve essas, eu gosta, você nunca mé mostrô".  

E então naquela casa só se ouvia, nas horas que o armênio estava nela, Alexandre Pires Fábio Júnior, Roberta Miranda, Paula Fernandes e afins. Os dois estavam craques, aliás, nos passinhos de pagode. 

Foi então que ela retomou os estudos de Kierkegaard a fim de ter uma compreensão mais ampla da natureza humana, com enfoque no armênio; distinguir a ilusão romântica de que "ouviremos as mesmas canções, meu amor", da realidade que se apresentava; e entender, acima de tudo, que a verdade que interessa é aquela vivenciada pelo armênio, pelas amigas das meias três-quartos e da agora série 50 tons de cinza, em vez de livros melhores, como os que ela aprecia e lê. A verdade que interessa não é só a verdade dela. 

Tem sido uma luta estudar, e compreender - quiçá gostar; preferencialmente respeitar -, alguns gostos dele e delas, as amigas. 

Mas sabe que continuará na contramão de muita coisa como: dirigir seu jipe verde, em vez de carros mais populares e, sobretudo, ouvir as melhores canções, segundo o gosto dela. 

É, a deslocada tem que estudar muito...


Uma linda quinta-feira para todos vocês, minhas gentes, pois nas quintas há sempre algo diferente no ar e hoje houve o fator sorte ou azar, depende dos olhos de quem viu/leu: fechar os olhos, abrir o dicionário e apontar uma palavra para virar tema. Por isso um texto aparentemente deslocado dos meus demais... 

13 comentários:

  1. o texto têm suas características de narrativa.

    Gostei.


    Tem que ter peito para ir na contra mão de tudo e todos.

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  2. aahhhhhhhahahahahaha
    Uai Limão, tá analisando estilo de texto agora é??? Como se fosse prova de vestibular??

    Eu ri!!!!

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  3. Falando me texto, Rafa e Limão, inda não li o post docês, mas prometo fazer isso inda hoje. Ou amanhã...
    Correndinho por demais.
    ]

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  4. Esse foi o texto que você escreveu em 30 minutos?
    Não escrevo mais.

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  5. Mágêntê. Obrigadaaaaaaaa

    Foi, juro. comecei de manhã, uns 5 minutos, parei pra trabalhar e quase na hora do almoço terminei. Não achei tãooo ruim, mas também num tá tããão bom, Helô.

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  6. Só vejo que todos do guaraná tem um tipo bem próprio...

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  7. Adoro pessoas descoladas ..

    e me adoro por escutar similares rsrsrr e pagodes

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  8. É D-E-S-L-O-C-A-D-A.
    Num é descolada.
    Se bem que... faz sentido.

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  9. Meu sonho: estudar e entender filosofia, por isso falei de Kierkegaard. Eu tinha uma amiga na net que fez doutorado, escreveu um livro sobre a obra desse filósofo. Eu tenho o livro dela e o pensadores dele. Mas ó... não entendo quase nada.

    Quem quer estudar filosofia comigo?

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  10. por que não comentei aqui se lembro de ter lido o post?

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  11. não so li, como achei dus mai bão?

    inclusive: INOVADOR

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  12. minha mãe, né?
    diferentona que nem a moça aí.

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Sinta-se em casa. Sente-se conosco,tome um guaraná e comente o que você quiser e depois, aguente!!! hihihi