sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Às despedidas forçadas

Tema livre
Por Taffa

"...e no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval - uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito - depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado - sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras - com flores e cantos. O inverno - te lembras - nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo."

"Despedida". Crônica extraída do livro "A Traição das Elegantes", de Rubem Braga. Post em homenagem a todos aqueles que se foram sem se despedir.

10 comentários:

  1. E hoje um post com uma crônica que me deu forças quando perdi a minha avó.

    ResponderExcluir
  2. Em memória a ela, ao vovô do Rafa e a todas as pessoas que partiram sem poderem se despedir.

    ResponderExcluir
  3. Que maravilha Taffa! Quando comecei a ler, sabia que seria uma homenagem ao vozinho do Rafa. E foi também pra sua avó. E me permito dizer que foi também pro meu pai.
    Sensibilidade é tudo!!!

    Helô

    ResponderExcluir
  4. Raffa força, sei como é isso... Essa cronica me fez pensar na minha sobrinha e na minha tia que faleceram recentemente...

    ResponderExcluir
  5. Que linda homenagem do Taffa, o homem mais gentil desse mundo de meu Deus. Loviú Taffa!!!

    ResponderExcluir
  6. Tanto o texto quanto o seu carinho, meu amigo...

    ResponderExcluir
  7. Preciso agradecer muito a vcs pela força, gente.
    E dizer que tá tudo bem por aqui, caminhando... Minha preocupação era minha vó, mas ela tem reagido bem!

    Obrigado mesmo!

    ResponderExcluir
  8. que lindo. não quero chorar, gente, para.

    ResponderExcluir
  9. um beijo na vozinha do rafa. e nele. e noces tudo.

    ResponderExcluir

Sinta-se em casa. Sente-se conosco,tome um guaraná e comente o que você quiser e depois, aguente!!! hihihi